Três dias sem internet. o mundo sumiu. Nào consigo postar as fotos. Blog atrasado e eu querendo falar sobre sagu. Bendito sagu, doce muito comido no sul. Iguaria feita de bolinhas de mandioca (polvilho pelotizado), mergulhadas e cozidas em caldo vermelho de vinho tinto e temperadas com especiarias (cravo, canela e vai...).
Já havia tido alguns fortuitos encontros com o sujeito, mas em nenhum tinha sido tomado pela determinação de encontrar o melhor sagu. Aquele que me revelasse o supremo sabor de um doce singelo e perfeito.
Desde que cheguei ao sul tenho comido sagu todos os dias, e em alguns, por duas vezes. Sorte a minha que não há dificuldade para o intento. Em todas as refeições, em todos os restaurantes, há sempre mesas e sobre elas, é claro, sobremesas coloridas e vistosas e também, sempre, lá está o cara, depositado em vasilha grande e larga, com seu tom avermelhado e brilhante. São impressionantes as possibilidades: com a mesma base e mesmos ingredientes é possível fazer sabores diversos. As variações são muitas. Há sagus densos como geléias, outros molengas e aguados. Alguns vermelhos vibrantes e outros rosas pálidos. Bolinhas de tamanhos diversos desde as minusclinhas até as bolotas com cara de gordinhas. Do gosto forte de cravo à predominância do sabor encorpado do vinho adoçado. Em minha opinião, sem pertencer à tradição sulista, o sagu perfeito é o mais molenga, com pelotinhas firmes, pouco doce obviamente e, creio, depois de pesquisa, realizado com vinho ruim. Da mesma maneira que dizem que a melhor caipirinha se faz com cachaça ruim, o sagu exige vinho seco, mas de qualidade inferior.
Depois de dezenas de sagus sul a fora elegi o meu sagu perfeito. É claro que, em se tratando de comida, o perfeito será sempre elegido entre os que comi. O meu escolhido foi o da Padaria Confeitaria e Restaurante Pão de Trigo, em Estância Velha. Esta pequena cidade fica geminada com Novo Hamburgo, cidade grande e já pertencente à região metropolitana de Porto Alegre. Estávamos hospedados em Ivotí, cidadezinha de 18 mil habitantes e como Santa Cruz do Sul, formada pela imigração alemã. Em verdade o nosso hotel ficava a 6 km do centro de Ivotí, que era mínimo. Um hotel parque com cavalos, trilhas, cachoeiras, piscina térmica e muito, muito menino escutando a Xuxa em volume alto, em programação especial que o hotel fez para o dia das crianças. Ivotí não tinha restaurante que funcionasse à noite então, fomos a Estância Velha jantar. Encontramos essa simpática padaria que tinha uma pizzaria em cima e um café ao lado. É curioso contar que caímos em um rodízio de pizza, massas e doces. Sabores de pizzas inovadores, para mim, é verdade. Cito alguns: Siri, Strogonoff, Picanha, Mafiosa (molho de tomate, presunto, muzzarela, abacaxi e fio de ovos) Alemã (molho de tomate, purê de batatas, salsicha bock, e muzzarela) e a Hot Dog (Salsicha com molho, mussarela, milho, ervilha e batata palha). Além destes, mais 35 sabores que desfilavam em formas muito altas nas mãos de garçons prestativos. No bufê de doces mais de tantas travessas com tortas, cucas, bolos, cremes, doces típicos. Em um canto, ao lado de um creme inglês que parecia de boa índole, o sempre presente Sagu. Claro que fui ao seu encalço, como sempre. E me veio o estado de euforia. O meu sagu perfeito estava ali. Rodeado de tantas outras sobremesas e vizinho da nobreza docística, lá estava ele. Reluzente. Vermelho vibrante na cor. Mostrava quantidade de bolinhas equilibrada com o volume de caldo. Açúcar leve, pelotinhas firmes. Sabor suave de vinho cozido e apenas uma lembrança das especiarias. Talvez isto, a existência de notas de cravo e canela como uma lembrança e não como um sabor, seja um dos aspectos mais importantes em minha recém criada degustação de sagus. Pronto, tinha encontrado meu sagu perfeito. Para não ficar solitário em minha busca, tive a chancela de Felipe, que mesmo que não tão obcecado como eu, também havia experimentado vários sagus aqui nesta extremidade do país. Daqui a alguns dias partiremos para o interior do Paraná. Devemos encontrar outros sabores dessa mesma sobremesa. Avisarei se encontrar outro melhor que este. Se não, fica desde já eleito o melhor sagu que comi: o sagu da Padaria Pão de Trigo, da cidade de Estância Velha, Rio Grande do Sul. Passo seguinte, e por ele já estou salivando, será esperar dezembro, quando farei o meu próprio sagu. Quem sabe na ceia de natal, reveillon ou até antes, no Café do Sol, depois de comermos um Empadão da Tia Nonita. Deixo aqui uma receita, que poderá ser ludicamente experimentada, avaliada, alterada e depois comentada. Vamos? Às panelas e fogões. Alguém tem outra receita?
Receita de sagu Sagu ao vinho tinto Ingredientes:1 xícara de sagu 4 xícaras de água 3 xícaras de vinho tinto 1 xícara de açúcar 1 pau de canela 4 cravos-da-índia Modo de Preparo: Coloque para ferver a água em uma panela. Assim que estiver fervendo, coloque o sagu e cozinhe em fogo baixo por cerca de 30 minutos misturando sempre para não grudar no fundo da panela. Em outra panela coloque o vinho, cravo e canela e ferva por 10 minutos. Despeje a mistura de vinho na panela com o sagu e cozinhe até que as bolinhas do sagu estejam transparentes. Se necessário, acrescente água fervente aos poucos. Assim que o sagu estiver cozido, acrescente o açúcar. Ferva por um minuto e retire do fogo.
A apresentação em Ivoti foi em uma enorme escola luterana que tem rapazes e moças internos. Como o palco do auditório era muito alto, resolvemos fazer o espetáculo no chão com as cadeiras em volta da área de cena. Foi ótimo. Eu sempre gosto de Olympia bem pertinho do público: vira uma conversinha mineira. Bem delicada.
Camarim improvisado e a cadeira mais linda que já ví.
2 comentários:
Experimente o sagu em cambará. Não lembro o nome do restaurante, mas era um dos mais cheios na cidade no dia em que fui. Servia comida italiana e o melhor sagu com vinho da face da terra.
Experimente o sagu em cambará. Não lembro o nome do restaurante, mas era um dos mais cheios na cidade no dia em que fui. Servia comida italiana e o melhor sagu com vinho da face da terra.
Postar um comentário